Interiores

06.04.2024 - 27.04.2024

Individual

Galeria Murilo Castro e FONTE - São Paulo, Brasil



Nas arquiteturas e nos arranjos espaciais concebidos por Aline Setton, as janelas assumem funções que estão entre aquelas sugeridas por Loos e por Le Corbusier. O espaço interno e o externo são contíguos: o fora e o dentro, assim como o perto e o longe, são separados por planos meticulosamente organizados pela artista. Em um mesmo trabalho, assumimos a posição do espectador, que mira o interior da habitação em seus inúmeros detalhes, e a do ator, que participa dos mesmos; somos ainda confrontados com paisagens distantes que capturamos com nosso olhar fotográfico. As janelas, para Setton, são mais do que operadores de visibilidade e invisibilidade da paisagem: são portais para espaços labirínticos que existem a partir da justaposição de fragmentos espaciais advindos de tempos distintos. 

O procedimento criado pela artista em suas composições revela a maneira pela qual as novas mídias influenciam a criação e a concepção dos espaços – fenômeno ao qual Le Corbusier estava atento quando propunha compreender a casa como máquina fotográfica. Setton localiza, tanto em livros de arquitetura e história da arte quanto na internet, imagens de espaços interiores e exteriores. Retirados de seus contextos, tais fragmentos imagéticos passam a integrar composições arquitetônicas improváveis e hiper-realistas. Com exímia precisão geométrica e realismo, cria-se certo desconforto no espectador, que não espera ser traído pelos pontos de fuga e pela perspectiva, elementos que fundamentam historicamente a educação do olhar no Ocidente. Os trabalhos de Setton escancaram a dimensão de virtualidade intrínseca à arquitetura, e, ao mesmo tempo, as superfícies sedutoras da pintura, que retratam esses espaços impossíveis, podem apontar para a proliferação e a superficialidade da produção de imagens na contemporaneidade. Diante da beleza e do rigor das composições, é quase impossível não pensar na função da arquitetura e das cidades contemporâneas como simulacros e objetos de produção e circulação de imagens: o ideal contemporâneo de cidade perfeita se relaciona tanto com as facilidades tecnológicas da smart city quanto com imagens espetaculares de torres espelhadas e iluminadas que atraem likes em redes sociais. 

Vale retomar ainda a ideia de suspensão temporal presente nas composições da artista: diante da impossibilidade de identificarmos de onde foram retirados os fragmentos espaciais, tem-se apenas o espaço-tempo presente do espectador. É inevitável olhar para as imagens produzidas a partir de uma perspectiva contemporânea, tal que suas obras poderiam ser compreendidas pela lógica da tela de computador, no qual, após dias intensos de labuta do usuário, inúmeras janelas de natureza e tempos distintos convivem. A simultaneidade e a justaposição são elementos fundamentais do mundo digital e constitutivos do trabalho da artista. Ao suspender o tempo-espaço dos fragmentos, estaria Setton provocando uma espécie de glitch na nossa compreensão arquitetônica do espaço-tempo? 

O glitch é uma interrupção temporária que desafia a linearidade do tempo e nos permite imergir em um estado de desconcerto. Para autores como Legacy Russel, tomar para si esse conceito poderia incentivar o reconhecimento de imperfeições, erros e desvios da norma, que muitas vezes são reprimidos ou considerados indesejáveis socialmente. Na era digital, em que a tecnologia e as mídias sociais desempenham papéis significativos na formação da cultura, o glitch possibilitaria até a subversão de narrativas dominantes e o questionamento do binarismo de gênero. É interessante olharmos para o trabalho de Setton como uma espécie de glitch na maneira pela qual percebemos e habitamos os espaços que, em sua maioria, permanecem regulados pelas estruturas de poder essencialmente masculinas. Setton é uma mulher, que subverte e constrói espaços todos seus. 

 Nesse sentido, gostaria de terminar este texto com uma breve reflexão sobre o processo de produção do espaço. Comecei discutindo, a partir de Beatriz Colomina, a maneira pela qual Adolf Loos e Le Corbusier, dois dos mais importantes arquitetos modernos do mundo ocidental, concebiam a relação dentro e fora de suas construções. Em seguida, eu me dediquei ao trabalho de Setton e à sua proposição para o espaço: em Interiores, as composições da artista formam uma grande instalação, de modo que os painéis pivotantes, tão característicos do espaço do Fonte, deixam de ser apenas suporte para as telas e se integram aos planos oblíquos das composições da artista; já as telas se comportam como paredes que recortam e criam outros espaços de experiências. Ao realizar suas obras, estaria Setton produzindo também o espaço? Penso ser importante declarar que sim. Diante de um mundo ainda desenhado e concebido por (e para) homens, os trabalhos da artista têm o papel fundamental de reivindicar, de forma sutil, o lugar de outros corpos nas paisagens urbanas e de criar geografias que possam escapar à nossa imaginação primeira. 

   Ana Roman

O fora pode ser sempre um dentro

Outro sonho: no interior, que é o exterior, uma janela e eu. Através dessa janela desejo passar para fora, que para mim é o dentro. Quando acordo, a janela do quarto é a do sonho, o dentro que eu procurava é o espaço de fora. (CLARK, Lygia)

Em A Parede Cindida: Voyeurismo Doméstico, a teórica da arquitetura Beatriz Colomina dedica-se a comparar a maneira pela qual os arquitetos modernos Adolf Loos e Le Corbusier concebem seus projetos a partir de uma relação entre o interior e o exterior e, no limite, pensam a produção e a circulação de imagens de suas arquiteturas. Pode-se dizer que Loos é mais conservador do que Corbusier: para ele, as janelas servem apenas para a entrada de iluminação e, muitas vezes, em seus projetos, além de opacas e cobertas por cortinas, elas têm seu acesso negado (ou dificultado) por mobiliários embutidos. Nos espaços concebidos por ele, os olhos de seus habitantes voltam-se para o interior, e qualquer vista do mundo externo passa obrigatoriamente pela casa. Criam-se espécies de camarotes – ou “caixas de teatro do mundo”, apropriando-me dessa bela metáfora de Walter Benjamin, também citada por Colomina –, e seus habitantes são, ao mesmo tempo, atores e espectadores das cenas familiares. Em uma breve busca por fotografias dos interiores de edificações projetadas por Loos, deparamos com a iminência da chegada de alguém que habita o espaço. 

Nas casas de Le Corbusier, há uma condição inversa: as janelas nunca estão cobertas, e tudo está disposto de modo a convidar o sujeito para o espaço exterior. Para ele, as edificações poderiam ser compreendidas como sistemas fotográficos, câmeras apontadas para a natureza, nas quais as janelas seriam as lentes. Não importava, para ele, onde tais arquiteturas poderiam se instalar: elas eram sempre concebidas como móveis, assim como câmeras fotográficas, que emolduram fragmentos de paisagem do seu entorno. Para Le Corbusier, habitar tem íntima relação com “habitar” a câmera e colocar-se como um sujeito que domestica e domina o exterior. Nas fotografias de edificações do arquiteto, sobretudo aquelas produzidas por ele, temos a impressão de que o indivíduo que habita aquele espaço acaba de se retirar, e vemos seus pertences cuidadosamente colocados.

C-R-A-S-H

08.07.2023 - 22.07.2023

Coletiva - Aline Setton e Erica Storer

25M Sala de Projetos - São Paulo, Brasil



Dissimulando o medo em uma postura altiva e ao mesmo tempo avançando guiada por uma frágil confiança técnica, a cena de uma equilibrista que atravessa o topo de dois prédios concentra sentimentos que vão da tensão paralisante (do público) à convicção que propulsiona (a acrobata) em direção à glória. Passo a passo, empunhando uma longa haste que ora pende à direita, ora equaliza-se em uma linha horizontal, nossa audaz personagem provoca em cada um dos espectadores a torcida agônica pelo fim da jornada da heroína. O vento bate mais forte, o cabo de aço tremula, e seu corpo em riste responde com movimentos que se opõem ao balanço natural da corda. Queremos vê-la alcançar ilesa o destino, mas cada segundo e cada centímetro são um misto de incerteza e aflição: é dever de cada passo evitar o abismo.

Tão fascinante quanto tensa, imaginar a performance de uma equilibrista evidencia a fragilidade humana contrapondo-se à mais densa concretude: a única certeza dessa narrativa é a solidez dos pontos de partida e de chegada: confiamos que os prédios não vão colapsar, que os alicerces vão garantir estabilidade e que sua estrutura seguirá imóvel. Toda imprevisibilidade, fraqueza ou possibilidade de erro é associada aos limites do corpo e da mente: o cálculo dos movimentos foi impreciso, os ensaios não se provaram suficientes, o tônus não suportou: foram as faculdades humanas as responsáveis pelo anticlímax. Os elementos envolvidos no feito épico de atravessar o vão livre nos servem como abstração para pensar as obras de Aline Setton e Érica Storer, artistas que manipulam cenas altamente racionais para alcançar uma deformação lírica e onírica da experiência visual. Para além da materialidade evidente que empregam — linhas tensionadas, materiais rígidos, cortes oblíquos e formas fragmentadas —, seus trabalhos são assentados em uma atmosfera embaralhada: seja através da pintura, da escultura, da instalação ou da performance, percebemos sempre um intento de d-e-s-o-r-i-e-n-t-a-ç-ã-o.

Em O Retorno do Real — um dos tratados mais relevantes à reflexão da arte contemporânea publicado na virada do milênio —, Hal Foster emprega dois conceitos que nos aventam possíveis rumos para adentrar a produção de Setton e Storer. Em um campo semântico emprestado da Física, o fenômeno denominado parallax sugere o deslocamento aparente de um objeto por conta da mudança do ponto de vista do observador: mesmo inerte, um corpo pode ter sua posição relativa alterada de acordo com a perspectiva pela qual o fitamos: fica evidente a traição ótica e a imprecisão de uma certeza guiada pela percepção. Por sua vez, o termo deferred action, cunhado originalmente por Lacan, remete à evidência psicanalítica de que a experiência do trauma não é um acontecimento único, podendo ressurgir em momentos que reverberam o abalo fundador: seja na História ou na consciência individual, não há como ignorar um rastro: por suas fissuras ou por suas feridas, o passado se reencena.

Sem a pretensão de esgotar perguntas-complexas em respostas-fáceis ou encarcerar em territórios seguros a produção individual das duas artistas, nos alenta recorrer, mais uma vez, à cena da equilibrista: como espectadores, ao olharmos desde o solo, temos a certeza de que ela está facejando as nuvens, tão próxima ao limite do céu; lá no topo, contemplativa e concentrada em sua missão, a ela resta aspirar fundo, prender o ar e pisar firme em um terreno que nenhuma estabilidade oferece: a velocidade é um risco e dar um passo atrás não é opção.

Henrique Menezes

O Eco das Sombras

14.10.2023 - 28.10.2023

Coletiva - Aline Setton e Ivan Padovani

Canteiro - Campo de Produção em Arte Contemporânea - São Paulo, Brasil



O tempo é a água invisível que nos envolve quando não estamos mais dentro d’água. Leda Cartum

Os povos originários se orientavam pela luz, através da passagem do tempo que se dava pela incidência da luz, onde escurecer, amanhecer e anoitecer são verbos do tempo. Com a criação do relógio, o tempo teve um novo modo de marcação, se tornando até um instrumento de controle de corpos, o que gerou a perda de proximidade com a natureza e seu processo mais cíclico que possui outras formas de orientação.

Na relação entre arte e arquitetura por um viés da poesia: a luz é uma dimensão do tempo. E pensar nas possibilidades de construções, elaborações poéticas e visuais entre esses dois campos é investigar as camadas de construção do habitar. Camadas que não são só constituídas pelo espaço físico, concreto dos materiais que dão utilidade e beleza à construção, mas são também práticas de apropriações de camadas que modificam os modos de uso do espaço fazendo-o aproximar ao campo da abstração. São processos importantes para uma experiência mais fenomenológica dos espaços, que juntos podem contribuir para outras relações, aquelas mais próximas ao universo da fabulação.

Um desses elementos que dão uma sublimação ao espaço e marcam o tempo pela incidência e pela sua falta é a luz. Ao mesmo tempo, em que ela ilumina algo, ela sempre deixa outro na sombra, no escuro. E são para esses escuros que somos convidados a olhar, entendendo-os como possibilidade de leituras dentro do contemporâneo, conforme aponta Agamben: perceber o contemporâneo é perceber os escuros que o compõem, é “perceber no escuro do presente essa luz que procura nos alcançar e não pode fazê-lo.”2 Dessa maneira, Agamben coloca que conforme os neurofisiologistas é na ausência de luz, que uma série de células periféricas da retina são ativadas, as off-cells e é através dessa atividade que nossa visão produz o escuro. Portanto, como conclui Guilherme Wisnik, “estendendo essa imagem para a percepção daquilo que há de escuro na contemporaneidade, podemos entendê-la, então, não como uma forma de inércia ou de passividade, mas como uma particular habilidade”3.

Partindo dessas investigações das possibilidades de relação entre arte e arquitetura em um processo de construção de um trabalho site-specific, Aline e Ivan exploram as relações entre luz, espaço e arquitetura. Lembrando que a luz é responsável pela formação das imagens em nosso sistema ocular e também é a matéria utilizada nos equipamentos de projeção de imagem, ao mesmo tempo, em que ela possibilita a imagem, ela também constrói a imagem.

São os mecanismos da imagem, do espaço e do tempo que proporcionam uma imagem corporificada, experiência vivida e especializada, estabelecendo um caráter multissensorial, “Imagens poéticas simultaneamente evocam uma realidade imaginativa e se tornam parte de nossa experiência existencial e noção de identidade pessoal.”4

Entender o espaço como matéria e suporte é trazer o conceito de Instauração utilizado por Tunga ao pensar seus trabalhos. Por meio de um caráter que vai além de uma dimensão instalativa passando para uma prática que quer instaurar o lugar. Desse modo, ativando suas camadas abstratas e rompendo com uma suposta hegemonia do olhar dentro do campo da percepção. Nesse jogo, ao estabelecer relações entre corpo e tempo, os artistas redimensionam a experiência espacial, tornando-a mais ativa nessa arquitetura. Questões fundamentais para entrar na pesquisa e no processo elaborado em O eco das sombras.

Pensar nos corpos que esses trabalhos constroem no espaço, partindo da claraboia, um corte geométrico na cobertura para entrada de luz natural. Uma coluna de ar, de luz, que de forma metafórica sustenta o que não é sustentável. A fresta de luz, a imagem duplicada e a luz artificial que é rebaixada próxima ao chão, iluminando ornamentos, que são muito comuns na serralheria e a dimensão sonora proposta por Yoichi Kamimura. São trabalhos que exploram outras camadas do espaço e incorporam a luz como um elemento que constitui e envolve a arquitetura e o tempo, capaz de criar leituras, aproximando a modos mais instaurativos e específicos do espaço.

Omar Porto

1 CARTUM, Leda. As horas do dia: pequeno dicionário calendário. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2012, p.48.
2 AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? E outros ensaios, trad. Vinícius Nicastro Honesko. Chapecó: Argos, 2009, p.65.

3 WISNIK, Guilherme. Dentro do nevoeiro: arquitetura, arte e tecnologia contemporâneas. São Paulo: Ubu editora, 2018, p. 301.
4 PALLASMA, Juhani. A Imagem corporificada: imaginação e imaginário na arquitetura. Porto Alegre: Bookman, 2013.

Mimese

11.11.2023 - 18.11.2023

Individual

Soda - São Paulo, Brasil



O projeto reúne performances ao vivo, esculturas, fotografias e vídeos, todos convergindo em torno do tema central da redefinição dos limites entre sujeito e objeto, convidando os espectadores a envolverem-se ativamente com os efeitos do mimetismo.

Peças de madeira desenhadas com base na anatomia humana e animal, aliadas às geometrias dos utensílios do cotidiano, tornam-se canais para explorar as ligações entre o corpo humano e os objetos inanimados. A exploração deliberada da distância entre os dois, leva os espectadores a questionar as suas percepções, desafiando-os a investigar as distorções causadas pelo mimetismo e suscitando a contemplação da fluidez da identidade na interação entre as formas desenhadas.

Parte integrante da exposição são performances ao vivo, contando com a presença da artista para ativar as peças de madeira. Estas performances desdobram-se ao longo do período da exposição, oferecendo uma camada dinâmica às obras estáticas. Uma coreografia de manipulação, inspirada nos movimentos necessários para alcançar e girar as peças de diferentes maneiras, cria um diálogo entre a artista, as esculturas e o espaço.

As fotografias e vídeos partem da documentação visual das ações, captando momentos em que o corpo e o objeto se envolvem em uma coreografia improvisada de movimentos possíveis. Através dos mecanismos de rotação, as peças de madeira ampliam os limites do corpo, estabelecendo uma relação simbiótica entre a forma humana e os objetos trabalhados.

A exposição conta tambem com objetos interativos, projetados para serem manipulados pelos visitantes, que aprimoram a experiência imersiva, permitindo que os indivíduos se tornem parte integrante do discurso artístico, confundindo os limites entre observador e participante, sujeito e objeto.

Inspirado nas grandes referências da arte concreta brasileira, como Ligia Clark e seus icônicos “Bichos”, além de designs de móveis modernistas, “Mimese” homenageia essas influências ao mesmo tempo em que forja uma narrativa que passa por diferentes mídias.
A estrutura modular dos objetos, não só apresenta uma variedade de configurações, mas também abre possibilidades de implantação em diversos contextos e escalas.

Plan View:

A look into the eye of a building

The site-specific work revisits the original architectural plans for the Toronto City Hall and Nathan Phillips Square to construct sculptural forms that play with the perspective of the building’s monumental geometry.

Inspired by urban infrastructure, the scale and modular character of the sculpture allows it to be configured in a way that welcomes visitor’s bodies to rest within it.

This work reflects the language developed over a series of paintings and sculptures that is based on deconstructing and rearranging elements of the landscape to investigate dialogues between architecture, objects and the body.

15.07.2022 - 17.07.2022

Temporary Public Installation

Nathan Phillips Square - Toronto City Hall, Canada



Making Spaces

What defines or  makes a space?  With  no fixed answer to this question, the exhibition Making Spaces navigates concepts of space, place and site through personal-collective experiences, in order to reflect on how we make spaces and the narratives that emerge. The exhibition features textile, mixed media and architectural installations by emerging artists Ana Luisa Bernárdez Notz, denirée isabel, Michelle Peraza, Camila Salcedo and Aline Setton. The imagery used by these artist’s references specific landscapes and histories, while exploring a sense of home and belonging. Offering moments of action and contemplation, the works include personal stories of migration, revealing the effects of colonial histories in the Americas. Within the exhibition, portraiture acts as a channel to examine identity through familial lineage, while the usage of facial photo filters broadens the notion by linking them to “identification” preferences.

01.10.2020 - 01.12.2020

Group Exhibition

Sur Gallery - Toronto, Canada



Toronto:BOOM

Acrylic painting on wall and on plexiglass, ink, and graphite on mylar and construction debris.

Through this installation Setton transforms space into a place, moving from the abstract to the embodied experience of inhabiting a specific place. Employing architectural components of Toronto’s local cityscape, the mural and the sculpture break the flat representation of architectural urban imagery, layering fragment of building sand switching the perspective of windows, walls and facades. As a newcomer, Setton looks at the city with fresh eyes while learning and researching about the Canada’s problematic history on this land, analyzing the implicit settler colonialism dynamic that took and takes place in the management of city planning. Focusing on the area where Sur Gallery is located (Tkaronto/Toronto’s Harbourfront), she composed a site-specific installation that captures the fractures between nature, land, and city development. This work also explores the relationships people develop with a place when moving within its spaces and histories along time.